José Coelho da Silva
Supremo Conselho do
Rito Moderno;
Grão-Mestre do Grande
Oriente do Estado do Rio de Janeiro (1991/95)
Para
falar de um Rito Maçônico, para melhor compreender a interpretação e o
entendimento de sua prática, é necessário tecermos considerações sobre a
Sociedade Iniciática que nos irmaniza: a Maçonaria. Tentam os autores de
Enciclopédias e Dicionários defini-la de várias formas, como Sociedade Secreta,
como Sociedade Filantrópica, como Sociedade de Homens Livres e de Bons
Costumes, como uma Organização Internacional com o objetivo de trabalhar para o
bem estar da Humanidade. O Grande Oriente do Brasil, seguindo a linha de
pensamento adotada pelo Grande Oriente de França, assim a define, com mais
acerto:
“A Maçonaria é uma instituição
essencialmente Filosófica, Filantrópica, Educativa e Progressista. Proclama a
prevalência do espírito sobre a matéria. Pugna pelo aperfeiçoamento moral,
intelectual e social da Humanidade, por meio do cumprimento inflexível do dever,
da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da
verdade. Seus fins supremos são a LIBERDADE, a IGUALDADE e a FRATERNIDADE.
Condena a exploração do Homem, bem como os privilégios e as regalias, mas
enaltece o mérito da inteligência e da virtude, bem como o valor demonstrado na
prestação de serviços à Pátria, à Ordem e à Humanidade”.
No
RITO MODERNO, aplaudimos com entusiasmo essa definição, pelo seu extraordinário
poder de síntese e pelo fecundante programa que apresenta. Programa amplo,
exotérica e esotericamente falando. Vai da Terra ao Céu, do Indivíduo à
Humanidade, do Alga ao Ômega; do Caos à Ordem Cósmica. Com ele praticado não
teríamos as convulsões sociais, os desequilíbrios econômicos e a miséria que
aflige grande parte da Humanidade, alimentada pela exploração do homem, pelas
injustiças sociais, pela ausência ou negação do Direito e pela omissão da
Justiça, na sua mais bela interpretação.
A
Maçonaria é Filosófica, bem o sabemos, porque ama a Sabedoria; é Filantrópica,
porque ama a Humanidade e sob esse ângulo desenvolve toda a sua atividade. É
Educativa, porque procura melhorar os seus membros, dando-lhes ou melhorando
suas qualidades, num trabalho, num trabalho constante, transformando-os de
“pedra bruta” em “pedra polida” e desta a planos espirituais de excepcionais
grandezas. Por fim, é a Maçonaria Progressista porque não se fixa no passado,
especialmente no Rito Moderno, conservando apenas o que lhe for imanente mas
aceitando, sempre que necessário, o contingente. Não se agarra ou se prende a
posições sociais ultrapassadas pelo tempo, não se acomoda ao que passou, não
fica ancorada ao local de suas últimas conquistas. Avança com o tempo, mantendo
suas estruturas básicas, as suas características imutáveis, não se prende,
porém, ao passado longíquo.
Contudo,
apesar da beleza da definição oferecida, julgamos que a Maçonaria não cabe numa
forma precisa de definição. Qualquer uma delas nos pareceria estreita,
limitada. É como outras coisas que não podem ser definidas nos apertados campos
do entendimento humano, como a Justiça, a Beleza, a Verdade, o Bem ou a
Divindade. Toda definição dada pelo Homem será, evidentemente, imperfeita,
incompleta. A Maçonaria é transcendental e, como dizia Oswald Wirth, quando
definimos essas idéias, apenas nos referimos a elas como se fossem: a nossa
Maçonaria, a nossa Justiça, a nossa Beleza, a nossa Verdade, o nosso Bem, a
Divindade em que acreditamos. E sob a inspiração daquele erudito Irmão,
completamos: entendemos, no Rito Moderno, que o fim da Maçonaria, numa
concepção mais ampla do entendimento, é o progresso social com a aquisição do
espírito científico.
No
Rito Moderno, estudamos que o maçom, fiel ao espírito da própria Instituição,
tem uma tríplice caminhada a percorrer, passando por três estados: o Místico, o
Metafísico e o Científico, uma vez que nós, os maçons, estamos ligados ao
próprio destino da Humanidade.
Em
socorro deste entendimento, parece-nos oportuno invocar a afirmação do William
K. Clifford, de que o “pensamento científico não é um acompanhamento nem uma
condição de progresso humano: É O PRÓPRIO PROGRESSO”. E, com pouca diferença de
interpretação, o Mestre Augusto Comte concordava com esse roteiro, afirmando
que “a Humanidade passa sucessivamente por três estados: o da mentalidade
mística, o da idade do senso comum e do espírito científico”.
Face
ao exposto, os prezados Irmãos já compreenderam que esses três estados, essas
três etapas da formação do Homem a serviço da Grande Causa, que é a Humanidade,
são os fatores mais preponderantes na formação dos diferentes Ritos existentes
na Maçonaria. E, como não ignoramos, Rito em Maçonaria, é o conjunto de regras
e preceitos, de conformidade com os quais são praticadas as cerimônias dos
rituais. Sabemos, também, que cada Rito tem sua autoridade regulada e sua
hierarquia própria, sendo autônomo e independente, e que seus atos, isto é, e
que os Atos e Resoluções emanados de suas Grandes Oficinas Chefes somente
recaem em Maçons da respectiva Obediência. Cada uma dessas Grandes Oficinas
Litúrgicas mantém um “TRATADO DE MÚTUO RECONHECIMENTO” com a Potência
Simbólica, no caso do Rito Moderno, com o GRANDE ORIENTE DO BRASIL, pelo qual
estão reguladas as atribuições de cada Corpo Maçônico, estando definida,
inclusive, a igualdade de direitos, nos atos solenes, entre o Grão-Mestre Geral
e o Soberano Grande Inspetor Geral do Rito Moderno. Isto porque, desde 1842,
quando de sua fundação, foi considerada a nossa Grande Oficina como o
MANDATÁRIO EXCLUSIVO DO RITO MODERNO OU FRANCÊS NO BRASIL, ratificado pela
Constituição e Estatutos Gerais da Maçonaria, de 25 de novembro de 1863,
promulgada em 25 de novembro de 1865 como a Lei Fundamental da Ordem Maçônica
no Império do Brasil. Passou a funcionar com o título de GRANDE CAPÍTULO DO
RITO MODERNO OU FRANCÊS a partir de 23 de novembro de 1874 e MUITO PODEROSO E
SUBLIME CAPÍTULO DO RITO MODERNO PARA O BRASIL a partir de 9 de março de 1953.
Já em 1976 teve a Constituição atualizada, passando a denominar-se SUPREMO
CONSELHO DO RITO MODERNO PARA O BRASIL, resguardando as finalidades e a
competência, mas ampliando as suas conquistas em relação à demais potências
filosóficas.
Sabemos
ser necessário à Maçonaria, para que possa desenvolver a sua Obra de construção
do Grande Templo, a existência de vários ritos, para atender às diferentes
formações ou concepções filosóficas de seus membros. A própria organização da
Igreja Católica possui e pratica vários ritos, como o Mozárabe, o Romano, o
Grego, o Ambrosiano, o Gregoriano, dentre outros. Os evangélicos possuem
dezenas de denominações, todas respeitáveis, que atendem ao sentimento ou
entendimento de cada um de seus filiados. Assim na nossa Ordem também existem
dezenas de Ritos, que atenderam ou atendem aos interesses de seus integrantes,
de conformidade com a formação cultural ou o caminho filosófico de cada Irmão.
Temos, por exemplo, o Rito Adonhiramita, o Americano, o Antigo, o Antigo e
Aceito, o Antigo Reformado, o Cavalheiresco, o da Estrela Flamígera, o da
Estrita Obediência, o da Harmonia Universal, o da Loja Mater do Escocês
Filosófico, o da Ordem dos Arquitetos da África, o de Fessler, o de Heredon ou
de Perfeição, o de Misrain, de 90 Graus, o do Real Arco, o de Schoreder, o dos
Fiéis Escoceses, o Rito Irlandês, o Rito Sueco, o Rito Eslavo, o Rito Inglês de
Iorque, o Rito Persa Filosófico, o Rito Otomano, o Rito Nacional de França, o
Rito Escocês Antigo e Aceito, o Rito Escocês Retificado, o Rito Francês ou
Moderno, o Rito de Iorque e o Brasileiro. No Brasil funcionam, atualmente, o
Rito Moderno, o Rito Escocês Antigo e Aceito, o Rito de Iorque, Rito
Adonhiramita, o Rito de Schroeder e o Rito Brasileiro.
Dentro
desse quadro situa-se o RITO MODERNO, a que pertencemos. Rito difícil de ser
praticado dentro das diretrizes que lhe são traçadas, uma vez que há de dirigir
seus passos em direção ao campo científico da formação do Homem do futuro, sem
a preocupação de um considerável número de Obreiros e um avantajado número de
Oficinas, pela premência de pessoal em condições satisfatórias para o seu
cultivo. Há de ser sempre uma minoria, porém dinâmica, atuante, esclarecida e
esclarecedora, sempre ávida de conhecimentos, até mesmo inconformada com o
marasmo ou a displicência. Não existe entre nós a preocupação de Graus, nem
tampouco, a ostentação de títulos e condecorações. Mutatis Mutantis, podemos nos comparar aos Jesuítas quanto ao
trabalho silencioso, humilde, mas acima de tudo, produtivo. Para esclarecimento
dos Irmãos, é oportuno salientar que os Jesuítas constituem uma comunidade de
cerca de 23.000 membros espalhados pela superfície do Planeta, e nenhum de nós
desconhece a gigantesca Obra que têm empreendido pelo séculos afora, com uma
força política dificilmente comparável e uma atuação marcante em todas as
épocas. É da História.
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